terça-feira, 1 de dezembro de 2009

ALTAR DA CULTURA/MENTE PAREDÃO

Hélio Rôla

Altar da Cultura/Mente Paredão


Revolta da cultura
...dias atrás produtores culturais, artistas, intelectuais e várias outras pessoas se declararam incomodados com o trabalho que a Semam vem realizando para trazer um pouco de silêncio à essa cidade na qual o desvairio empresarial do turismo sócio-corrosivo e predador do ambiente e em nome da cultura, como dizem, tomou de conta dela e a mergulhou num diluvio acústico abusivo e fora da lei ...
O desagrado dos atingidos e o apoio de alguns é compreensível mas há muito mais a se considerar nessa questão, ainda mais quando não há dúvida de que O silêncio é um bem comum e o barulho, não... ...Claro que ninguém, indivíduo ou empresa, se conforma em ser admoestado pela lei, mesmo que não tenha razão...Na minha experiência de vida, vivendo longos anos sob violência sonora na praia de Iracema e alhures, jamais vi sequer um dono de bar ou de casa de Show, teatro, micaretas e etc... admitir que seu negócio cultural violentava e degradava o viver da vizinhança e não seguia a lei...Enfim, na ocasião, na Biblioteca Pública, a Semam deu exemplos claros e irrefutáveis e os nominou dizendo que não fez interferências anti-som sem antes avisar os estabelecimentos que ora se sentem prejudicados...Outra coisa: a história nos conta que muitos dos que poderiam dizer e fazer algo para amenizar a barbárie de Iracema ficaram calados e até aderiram de corpo-e -alma à agressão socioambiental enquanto seguia e se aprofundava o plano sinistro e obstinado do turismo em desmanchar de maneira radical e sem apelação a vida residencial da praia de Iracema...Tudo isso se deu sob um danoso clima de indigência cívica que, por omissão interessada(?) de autoridades e despreparo técnico das administrações, tudo legitimou e qualquer desmando em nome da cultura e do turismo virou "tradição" e "patrimônio da humanidade"... Aí está a praia de Iracema hoje como peixe-fora-d'agua que não nos deixa mentir ...Nem mesmo o Estoril, a alma mater da boemia cult, resistiu ao tranco bronco da cultura dura e caiu morta nos braços do forró-lambada que logo aterrou a piscininha...
Será que existe alguma maneira de fazermos nossa arte/cultura sem transformá-la em um flagelo socioambiental? Será que Existe?
Coisa recente, vejam só em que tempos vivemos: lastimável e descabida foi a intervenção do atual Vice-Prefeito de Fortaleza, meu Deus! desautorizando e obstruindo as ações da Semam, uma Secretaria da própria Prefeitura durante uma missão para fazer valer as normas dirigidas ao controle da poluição sonora na cidade de Fortaleza. Desta feita o som além da conta procedia de uma festa no Iate Club...alguém da vizinhança, um munícipe que paga seus impostos se sentiu incomodado e se manifestou, fez queixa, fez BO e deu nessa confusão que aí está em andamento. Agora veremos o que o Ministério Público Estadual vai fazer.
Senhor Aurélio Brito, apoio integralmente as ações da Semam para civilizar essa selva de SOOOMMMM que é a nossa cidade...O barulho é subdesenvolvimento, é lixo! Não nos apercebemos disso ainda, esse é o nosso problema...estaria aí a nossa segunda natureza, A mente paredão?
Pra terminar, um "poema" feito na praia de Iracema no início dos anos 1990 época em que a Semace mediu 90 decibéis ( Guinnes Book of Records..?) numa segunda-feira "daquelas", na rua dos Carirís, na entrada da ponte dos Ingleses...

Cultura quebra-mar
ou Cultura ma non troppo

Cultura? Claro que quero!
Só não quero é ela
além da conta e sem jeito
atravessando parede
estourando ouvidos
descendo goela abaixo
ou de olhos adentro
nem se espalhando corpo afora
sem que eu
nada mais possa fazer
senão arte
pra me livrar dela

Saudações da pARTE do Hélio Rôla
Enviado por: Hélio Rôla

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